... existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.

(Clarice Lispector)

terça-feira, 14 de junho de 2016

Madrugada, sem hora.

I
Na noite insone
Imperturbável

Some a fome
Some o sono
Só não some o desejo

Uma moto atravessa meus pensamentos
Já não lembro seu nome.

II
Sobre a madrugada
Paira uma luz inexata
Fazendo oscilar as imagens
Os quadros imaginários
Situações jamais vividas
E por isso mesmo tão reais

Afinal, o que existe fora da mente?
Para sabê-lo somente sendo
Apensante, inconsciente
E só de pensar em sê-lo
Já criei outra realidade

Qual é mesmo o seu nome?

III
Um desejo quente de sexo
Lascivo

Línguas que percorrem trilhas de cheiros
Mais uma imagem enevoada de realidade
Suja e perturbadoramente deliciosa

Te persegue
Chama

Mas por qual nome?

IV
Penetra a palavra pelo desejo
E o dedo pela tua
boca buceta bunda

Fode gostoso com a tua culpa
cristã católica pudica

Goza em teu nome
Mas que nome mesmo?




05/04/2016, madrugada sem hora.