É, talvez isso de querer escrever com uma certa beleza etéra, algo que transcenda o próprio ato da escrita, seja o que mais me preocupa quando escrevo. Mas é também algo que de certa maneira soa impessoal, inverossímel, como se o que eu estivesse tentando dizer ficasse obscuro, apenas suspeito, nas entrelinhas... sinto que isso me impede de me jogar de verdade na coisa nua e crua do que me impulsiona.
Certa vez li um trecho de Caio Fernando Abreu que dizia: "Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta."
Isso me faz pensar que eu raramente me arrisco a colocar pra fora toda a gosma mesmo, aquela coisa mais amarga e fedida que está me enjoando. Aquilo que consiste todo o ato da entrega. Tudo sempre tão cheio de floreios, sinuosidades, metáforas, como que pra desviar aquela coisa incômoda que não sabe ser dita.
E daí?? E daí se o que eu desejo te incomoda, te enoja? E daí que meu querer é bizarro, louco, imundo, irreal??
Foda-se você e as suas perguntas. Foda-se você e seu julgamento, seu pré-conceito, seu pudor. Nem tudo é poesia. As coisas também são feias, fétidas, podres. Eu, você e todo o resto.
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