... existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.

(Clarice Lispector)

domingo, 24 de abril de 2011

Amor e violência

Como uma loucura tão intensa. A relação que se fazia ao longo dos anos tinha sido marcada por diversas sensações incompreendidas. Nenhuma delas podia advinhar de onde vinha tamanha intensidade. Era um amor inexplicável e que causava medo. Toda a vida construída assim, amor e medo. E claro, não havia a possibilidade da perda e era isso o que causava mais medo: estaria sempre ali. As diferenças um dia tinham servido para aproximá-las, como metades que se contemplam. Uma ternura e a outra guerra. Uma a ingenuidade, a outra a esperteza. Uma o dia, a outra a noite. Depois de um tempo, veio a violência. Não poderiam nunca resgatar quando começou exatamente, mas o que antes era seguro passou a ser traiçoeiro. Chegou a tal ponto de absurdo que a única intenção possível de toque e aproximação era a briga, a agressividade, o desejo de marcar a pele da outra com a força. A única possibilidade de demonstrar amor. Foi o único modo que encontraram de continuar se amando apesar das diferenças. Até o dia que aconteceu. Uma marca tão profunda que as distanciou completamente. Já não podiam evitar, a separação era evidente. O amor que sempre renascia das cinzas, conusmido em ódio e carinho, esse amor que era alimentado pelo laço de sangue que as unia, pereceu por ele. Nunca senti tanta tristeza.

3 comentários:

  1. Meu amor parece ter ofendido profundamente às pessoas que amei.

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  2. Não foi o seu amor, foi sua agressividade que ofendeu. Foi o ódio, e as marcas que ele provocou.

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  3. e é por isso que eu sempre peço pra ser deixada em paz e não gosto que se aproximem muito de mim, meu ódio anda muito rente ao amor.

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