Segurava o livro como se fosse uma relíquia. A única que lhe restara, depois que todos os sonhos e tesouros reais e imaginados tinham sido destruídos pelo incêndio. Estava sozinha, na plataforma da estação, sem saber que destino tomar. E como se todos à sua volta rissem dela, chorou. Nunca imaginou a solidão completa e tão desejada como algo tão desesperador. Era fácil ser toda independente e forte e mandar todo mundo se foder quando havia para onde voltar. Sentada, relia as páginas que pareciam ser sua única salvação. Seu único elo com a vida que fora, destruída em poucos minutos e grandes línguas de fogo e medo. As lágrimas embaçando a visão e molhando as palavras que lhe rasgavam a pele. Só conseguia lembrar do fogo consumindo tudo e dos olhos que suplicavam. E seus olhos, tão vermelhos como as chamas, tão cegos como se feitos de fumaça densa. Ódio. Arrependia-se?
Pensando nisso, enxugou as lárgimas e, tão calma como se tivesse alcançado uma inevitável verdade, saiu a caminhar pela linha do trem. Sorrindo, virou-se para trás ao ouvir o barulho da locomotiva. Recebeu tranquila e de braços abertos o único destino compatível com sua condição assassina e solitária.
O livro permanecera aberto no banco da estação. Em suas páginas manchadas das lágrimas, os versos restavam intactos e severos:
"Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem,
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?"*
* Álvaro de Campos
Pensando nisso, enxugou as lárgimas e, tão calma como se tivesse alcançado uma inevitável verdade, saiu a caminhar pela linha do trem. Sorrindo, virou-se para trás ao ouvir o barulho da locomotiva. Recebeu tranquila e de braços abertos o único destino compatível com sua condição assassina e solitária.
O livro permanecera aberto no banco da estação. Em suas páginas manchadas das lágrimas, os versos restavam intactos e severos:
"Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem,
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?"*
* Álvaro de Campos
Thatoquita... que texto lindo e forte.... chacoalhão em plena quarta-feira de cinzas. Viva!
ResponderExcluir