Escrever sobre o que se conhece.
O que eu conheço, desde que me conheço por gente, é essa busca angustiante pelo outro.
E eu posso sempre tentar escrevê-la poeticamente, e ela nunca deixa de ser sempre isso: busca, angústia.
O que eu espero de verdade dessa busca é que, ao encontrar um outro, eu encontre a mim mesma.
Que ao ser olhada, eu veja nos olhos do outro meu próprio reflexo decifrado.
Que ao ser tocada, eu possa definir os reais limites e texturas do meu corpo.
Porque essa vida que eu movimento, e esse corpo que eu habito são demasiado confusos pra mim.
São demasiado confusos os horizontes do meu pensamento, e a urgência que eles têm de entender a existência.
De sentir amor.
Sentir amor....
Cabe ao poeta estabelecer aquilo que permanecerá. Cabe ao que escreve decidir o que fica.
Eu queria saber escrever ficcionalmente, pra que a vida que eu imagino pra mim pudesse existir ao ser criada pelas minhas palavras. Diz-que que do verbo fez-se o mundo. Um ato criador é aquele que nomeia. É poiesis.
Mas só sei escrever o que conheço. E não conheço outra vida além daquela que busca, e espera incessantemente que essa busca tenha algum sentido. E toda a angústia que essa busca traz não é só impaciência pela espera em si, mas a espera também do significado que esse encontro vai trazer. Ou que se quer que ele traga. Que faça mais sentido uma vida que adquire sentido na vivência com um par, do que numa experiência solitária.
Não conheço vida que não queira se ligar a outra vida.
E pode até ser muito fútil, ou ingênuo dizer que passo a vida inteira buscando amor.
Mas o que é o amor, senão aquilo que permanece nas palavras do poeta?
Nenhum comentário:
Postar um comentário